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Importação ameaça futuro das pequenas e médias - 23/08/2011

Por Stella Fontes

A crescente entrada de veículos importados no país e a perda de competitividade das autopeças nacionais deverão resultar no fechamento de pequenas e médias empresas do setor no curto prazo, na avaliação de consultores e representantes da indústria brasileira de componentes automotivos. Embora o governo tenha anunciado um pacote de medidas específicas para a indústria, com um novo regime tributário automotivo, na ocasião do lançamento do Plano Brasil Maior, a ausência de iniciativas que tenham impacto no curtíssimo prazo deixará marcas negativas nos elos mais fracos da cadeia - os fornecedores classificados como tier 2 e tier 3 -, que não têm encontrado fôlego financeiro para investir em modernização.

"O Plano Brasil Maior é uma grande iniciativa do país para melhorar a competitividade. Mas, em minha avaliação, não será suficiente", disse ontem o sócio da consultoria Roland Berger, Stephan Keese, durante simpósio promovido pela SAE Brasil. "Sistemistas e fornecedores de componentes originais às montadoras (OEM) talvez tenham investido o suficiente em novas tecnologias de produção. Mas as companhias menores devem enfrentar um momento muito difícil", acrescentou o especialista.

Esse cenário já levou o Sindipeças, entidade que representa a indústria nacional de componentes e reúne cerca de 500 empresas, a afirmar que a previsão de déficit comercial para este ano, originalmente fixada em US$ 4,5 bilhões, deverá ser ultrapassada. Agora, o sindicato trabalha com saldo negativo de até US$ 4,8 bilhões. No ano passado, a indústria registrou déficit recorde de US$ 3,54 bilhões. "O aumento das importações tem impactado fortemente o setor e desde 2008 já resultou no fechamento de pelo menos 50 mil postos de trabalho", afirmou Paulo Butori no mesmo evento.

Segundo o empresário, a grande expectativa da indústria, neste momento, diz respeito à regulamentação da Medida Provisória 540, que estabelece um novo regime tributário para o setor automotivo e promete fornecer ferramentas à recuperação da competitividade das empresas brasileiras.

"É preciso ver como se dará a regulamentação. Tememos que apenas as grandes montadoras e sistemistas acabem beneficiadas por essas medidas", alertou Butori. Das cerca de 500 empresas associadas ao Sindipeças atualmente, 40 são sistemistas - que entregam conjuntos completos às montadoras - e outras 10, mais ou menos, são fabricantes de peças de grande porte. Os demais associados são de médio e pequeno porte e estão, hoje, no foco da preocupação.

Editada em 2 de agosto, a medida provisória, conforme expectativa da indústria, deverá ser regulamentada em até 15 dias e foi recebida com otimismo cauteloso, conforme define Butori, uma vez que representa uma "luz no fim do túnel", porém sem efeitos no curto prazo. Para o conselheiro do Sindipeças e diretor da Automotiva Usiminas, Flavio Del Soldato, o segundo semestre promete ainda mais desafios para toda a cadeia automotiva. O aumento dos estoques nas montadoras e revendas ainda não é preocupante, porém o avanço dos veículos importados no mercado nacional desperta receio entre os fabricantes nacionais.

"Haverá mais dificuldade no segundo semestre, mas tudo indica que as previsões da Anfavea serão cumpridas, com vendas superiores à produção", afirmou Del Soldato. "Agora, temos um problema sério com os importados, que mesmo pagando a taxa de 35% (de imposto de importação) chega competitivo ao mercado brasileiro". Neste ano, cerca de 800 mil veículos produzidos em outros países deverão ser comercializados no país.

Além da importação de peças e veículos montados, a provável chegada de novos sistemistas e fabricantes de peças no país, na esteira da instalação de montadoras asiáticas que anunciaram produção local recentemente, acendeu a luz amarela no setor. "É positivo que eles venham produzir aqui. Mas é necessário que a indústria local esteja forte o suficiente para não entregar mercado", afirmou Del Soldato.
 

 
Fonte: Valor Econômico



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